Num cenário de tantos retrocessos, ao menos desta vez o Judiciário cumpriu seu papel ao reconhecer a cultura do estupro e não culpar a vítima. A ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, ganhou nesta terça (24) ação judicial movida pelo ator Alexandre Frota, em julgamento do recurso em segunda instância.
Eleonora, ainda ministra do governo da presidenta eleita Dilma Rousseff, fez críticas à entrevista do ator pornô em um canal de televisão, quando ele confessou, em tom de piada, ter feito sexo com uma mãe de santo desacordada. Frota exigia a condenação e uma indenização de R$ 35 mil.
Após a vitória, ao sair do Fórum João Mendes onde ocorreu o julgamento, Eleonora foi abraçada por mulheres sindicalistas, de movimentos populares e religiosos que estiveram na frente do prédio e promoveram uma manifestação de solidariedade.
Emocionada, ela afirmou que a decisão favorável significa uma conquista coletiva. “Esta vitória é de todas as mulheres. Ela não me pertence, mas a todas as brasileiras. Ela representa a condenação do estupro e a absolvição total das mulheres. Ela saiu de mim. Ela é agora da sociedade brasileira. É uma luta pela democracia, em favor da justiça social, dos direitos humanos das mulheres”, disse.
Aos 73 anos, ela demonstrou o que significa a resistência contra a violência e a cultura do estupro. “Tenho honra de ser uma mulher que já viveu dois golpes neste país e que hoje enfrenta esta luta, em nome de um compromisso com as mulheres brasileiras. Essas que me ensinaram a lutar”, destacou.
A ex-ministra garante que sai fortalecida deste processo. “Me sinto ainda mais comprometida com a luta pela democracia, pelo retorno do Estado de direito no nosso país, contra o golpe que tirou a primeira mulher presidenta, eleita e reeleita, e contra este clima de ódio que os golpistas instalaram em nosso país. Viva as mulheres brasileiras”, concluiu.
Violência estrutural
Minutos antes do julgamento, o ator pornô, um dos apoiadores do golpe, foi acompanhado por representantes de grupos de direita que agrediram as manifestantes em sua defesa. A Polícia Militar esteve no local e, ao invés de tranquilizar a situação, fez pressão aos militantes de esquerda.
Secretária de Comunicação da CUT-SP, Adriana Magalhães lamentou a violência institucional. “Existem movimentos de direita que são patrocinados. Gente que esteve hoje no fórum, que defende estuprador, que defende intervenção militar no Brasil”, criticou.
Fonte: CUT-SP