A construção de barragens de hidrelétricas costuma deslocar milhares de operários para as mais distintas cidades do Brasil, muitas vezes em pequenos municípios em regiões isoladas. A chegada do elevado contingente de trabalhadores também costuma vir acompanhada de uma série de violações de direitos humanos, principalmente contra as mulheres, vítimas de assédio sexual, estupro, tráfico de pessoas e prostituição. Para mostrar essa realidade, estreia nesta quinta-feira (19), às 19h, no Cine Caixa Belas Artes, em São Paulo, o documentário Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência.
Produzido pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e financiado por meio da plataforma de financiamento coletivo “Catarse”, o filme cruza a história individual e coletiva de 10 mulheres atingidas por barragens, nas cinco regiões do país.
Pela perspectiva de cada personagem, o filme revela os problemas causados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte (PA), da barragem do Fundão, rompida em novembro de 2015 e responsável pela morte de 19 pessoas em Mariana (MG); a barragem do Castanhão, na região metropolitana de Fortaleza; e as hidrelétricas de Itá (RS), Cana Brava e Serra da Mesa, as duas últimas localizadas em Goiás.
O bordado como ferramenta política
“Arpillera” é o nome de uma técnica de bordado criada no início do século 20, em Isla Negra, no Chile, na qual mulheres utilizavam a juta de sacos de batata para criar histórias costuradas.
Décadas depois, durante a violenta ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), a técnica foi utilizada para denunciar, com pedaços de roupas de parentes, os desaparecimentos forçados impostos pela repressão. Ao contrário das histórias em Isla Negra, entre a juta eram escondidas cartas que relatavam o que ocorria no país.
No filme Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência, uma arpillera com o contorno do mapa do Brasil une as personagens de Norte a Sul do país, criando um mosaico de histórias de luta e resistência de mulheres que perderam suas casas e memórias alagadas pelos lagos das barragens.
Fonte: RBA