Símbolo da luta pelos direitos humanos no Brasil, “amigo do povo”, como certa vez disse que gostaria de ser lembrado, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns morreu na manhã de hoje (14), aos 95 anos, no Hospital Santa Catarina, na capital paulista,, onde estava internado desde o dia 28 de novembro com um quadro de broncopneumonia.
Nascido em 14 de setembro de 1921 em Forquilhinha, colônia de imigrantes alemães na região de Criciúma, em Santa Catarina, Paulo Evaristo Arns era o quinto dos 14 filhos de Gabriel Arns e Helena Steiner.
Entre 1956 e 1966, foi professor de teologia no seminário franciscano de Petrópolis (RJ), período em que atuou nos bairros pobres e favelas da cidade serrana. Em seu livro autobiográfico de memórias “Da Esperança à Utopia - Trajetória de uma Vida”, definiria a época em Petrópolis como a mais feliz da sua vida.
Em 1966 foi nomeado bispo, por decisão pessoal do papa Paulo 6º. No mesmo ano foi escolhido para ser bispo auxiliar do cardeal de São Paulo, Agnelo Rossi, homem aliado à ala conservadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e que logo o enviou para atuar na região de Santana, na zona norte da capital paulista.
Ali começou a visitar e conhecer a situação dos presidiários da Casa de Detenção do Carandiru, além de criar núcleos da pioneira experiência das comunidades eclesiais de base (Cebs). Um dia, por orientação do cardeal, dirigiu-se ao presídio Tiradentes para checar as condições de frades dominicanos presos por razões políticas, entre eles frei Beto e frei Tito. Foi quando viu com os próprios olhos a deplorável situação de frei Tito, barbaramente torturado pela ditadura civil-militar que um ano antes, em 1968, havia engrossado a repressão e a perseguição política com a instauração do Ato Institucional nº 5.
O contato com os presos políticos no presídio Tiradentes e a constatação das torturas praticadas pelo regime, marcaria dali em dia, definitivamente, a vida e a trajetória de d. Paulo como defensor incansável dos direitos humanos e dos presos políticos.
Em 1970, com a transferência do cardeal Agnelo Rossi para Roma, d. Paulo Evaristo Arns assumiu como o novo arcebispo de São Paulo, novamente a convite do papa Paulo 6º. A admiração entre ambos era recíproca.
Em 1972 instalou a Comissão Justiça e Paz, cujo objetivo era prestar atendimento às vítimas e perseguidos políticos da ditadura. Tendo o jurista Dalmo de Abreu Dallari como primeiro presidente, a comissão funcionava na Cúria Metropolitana e logo se tornou ponto de refúgio para familiares de mortos e desaparecidos. No ano seguinte, o papa Paulo VI elevou-o a cardeal.
Símbolo da resistência, admirado e amado pelo povo, d. Paulo Evaristo Arns era, por outro lado, de certa forma odiado pelos líderes militares e civis da ditadura. Em 1975, após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, comandou na Catedral da Sé um ato ecumênico que entraria para a história da luta pela democracia e o fim da ditadura no Brasil.
Em 1998 o cardeal se afastou do comando da Arquidiocese de São Paulo e, desde então, passou a manter uma vida discreta, em recolhimento, ao mesmo tempo em que recebia inúmeras homenagens por sua vida dedicada à luta pelos direitos humanos. Em maio de 2012 ainda recebeu a vista da então presidenta Dilma Rousseff, na Congregação Franciscana Fraternidade Nossa Senhora dos Anjos, em Taboão da Serra (SP). No encontro, Dilma lhe falou da instalação da Comissão da Verdade, criada dias antes.
Com a saúde bastante frágil, passou os últimos anos de vida dedicado às orações e aos estudos.
VIA Rede Brasil Atual