Ainda não estão claros os objetivos do memorando assinado ontem (24) entre a Petrobras e a petroleira francesa Total, na Rio Oil & Gas 2016, no Rio Centro, no Rio de Janeiro. O documento representa, segundo as diretorias das duas empresas, entendimento para a exploração dos segmentos de Exploração e Produção e de Gás e Energia. Não foram definidas questões como quais ativos comporão a parceria, o que é previsto para o final do ano.
Embora os objetivos desse acordo não estejam transparentes, o diretor de Relações Internacionais e de Movimentos Sociais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, considera que um fato continua sendo motivo permanente de alerta desde a posse de Pedro Parente na presidência da petroleira nacional: "É preciso defender a Petrobras da sua diretoria. Não podemos esquecer que Parente responde um processo de R$ 1 bilhão por causa do prejuízo que causou para o Brasil e a Petrobras quando foi do Conselho de Administração da empresa".
Segundo a FUP, Parente foi responsável por uma política que provocou prejuízos de mais de US$ 1 bilhão à estatal, ao obrigar a Petrobras a assinar contratos de parceria com o setor privado para construção de usinas termoelétricas, entre 2000 e 2003. O presidente Michel Temer participou da abertura da Rio Oil & Gas 2016 e disse que a gestão de Parente deu maior credibilidade à Petrobras e colocou uma "administração equilibrada" na companhia.
José Maria Rangel, coordenador da FUP, também diz que não está claro o que o memorando com a Total representa. "Aparentemente, será para troca de tecnologia com a Total. Não se pode esquecer que a Total é parceira da Petrobras no campo de Libra. Mas tem que esperar para ver o que esse memorando significa."
A francesa Total, que assina o memorando com a Petrobras, controla hoje 20% da área de Libra. A anglo-holandesa Shell tem outros 20%, os chineses controlam 20% e 40% são da Petrobras. Em junho, o Consórcio de Libra, formado com essa composição, concluiu a perfuração do sétimo poço do bloco. Foi encontrada ali a maior coluna de óleo de Libra, com 410 metros de espessura, que supera a anunciada em março, de 301 metros.
A Câmara dos Deputados deve concluir entre hoje e amanhã a votação do Projeto de Lei (PL) 4.567, que flexibiliza as regras do pré-sal e é originário de projeto do Senado, de autoria do senador licenciado José Serra (PSDB), ministro das Relações Exteriores. O texto-base foi aprovado no início do mês e restam apenas emendas aglutinativas e destaques.
Moraes lembra que o pré-sal, hoje, responde por cerca de metade da produção de petróleo do Brasil. Em agosto, esse dado praticamente se consolidou, quando a estatal divulgou que, de 2,70 milhões barris de óleo equivalente (petróleo + gás) extraídos pela Petrobras por dia, 1,32 milhão vem do pré-sal.
Apesar de dados que, como esses, mostram a imensa riqueza representada pelo pré-sal, há três semanas Pedro Parente deu uma declaração que Moraes afirma não poder ser classificada de outra maneira a não ser como absurda. "Houve um certo endeusamento do pré-sal, quando temos em outras áreas da empresa campos excelentes, como na Bacia de Campos", disse Parente na ocasião, em evento promovido pela revista Exame, da editora Abril.
"Nos anos 70, o Brasil importava metade do seu consumo de petróleo. Isso significa que hoje, sem o pré-sal, a gente voltaria a ter essa situação. A gente estaria importando metade ou mais do nosso consumo diário de petróleo", calcula Moraes.
O dirigente lembra que a grande crise econômica que o Brasil viveu nos anos 70 se deu em função do petróleo importado, principalmente em decorrência da crise mundial do petróleo, provocada pela instabilidade política no Oriente Médio. Em 1973, em protesto pelo apoio dos Estados Unidos a Israel na Guerra do Yom Kippur, os países árabes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) – Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait – aumentaram o preço do barril de US$ 3 para US$ 5 e, em dezembro daquele ano, para US$ 11,60, provocando uma crise mundial.
O campo de Libra, na camada do pré-sal, em águas profundas, está na Bacia de Santos, a cerca de 170 quilômetros da costa do Rio de Janeiro. As estimativas da Agência Nacional do Petróleo (ANP) são de que os recursos possam variar entre oito e 12 bilhões de barris de petróleo. Seu pico, segundo avaliação da multinacional Shell, pode chegar a 1,4 milhão de barris por dia.
As movimentações mais importantes da direção de Petrobras desde a posse da diretoria comandada por Parente, em 1° de junho, até o momento, foram as vendas da área de Carcará, na Bacia de Santos, por US$ 2,5 bilhões para a norueguesa Statoil, e da malha de gasodutos na região Sudeste para consórcio liderado pela empresa canadense Brookfield. Este último negócio é estimado pelo mercado em US$ 5,2 bilhões.
O processo de venda da BR Distribuidora é previsto para ser iniciado em outubro, com a apresentação do modelo ao mercado, conforme Parente prometeu a investidores no mês passado.
VIA Brasil 247