A prisão de Cunha é um evento longamente esperado, que chega com um atraso monumental e que, por isso mesmo, faz desconfiar de que seja o ato preparatório para outra ação. Ao prender Cunha, o juiz Sérgio Moro, veste os trajes de uma suposta neutralidade, embora essa credencial só pudesse de fato soar como autêntica se tivesse sido adquirida meses atrás. Cunha já poderia ter sido preso ali pelo começo de maio, quando foi afastado da presidência da Câmara e perdeu o foro privilegiado. Mas isso não aconteceu.
Tal como o ministro Teori Zavascki levou meses para afastar Cunha, permitindo a ele atuar como o principal articulador do impeachment, a prisão de Cunha leva-nos a pensar que o que se faz, ou não se faz, em relação a ele, tem em mira outros alvos.
Após o vídeo em que uma mulher agride Cunha no aeroporto Santo Dumont no Rio, que viralizou rapidamente na internet, inundando a direita e a esquerda numa onde de prazer sádico compensatório, o momento político para a prisão estava dado.
Quanto a Lula, é curioso notar que a Folha de São Paulo, nos dias precedentes, inundou o UOL com matérias negativas que permaneceram horas a fio na home. Ontem, enquanto o grande escândalo eram três ministros e um ex-ministro de Temer denunciados, o dia quase inteiro teve como principal manchete uma acusação ao PT. Sobre Temer e seus rapazes, apareceu uma matéria tímida na parte inferior da página.
Portanto, ao que tudo indica, é hora de sair às ruas para evitar que Sérgio Moro, se seu ato trouxer a moral que ele procura, o faça sentir-se em condições de realizar a prisão de Lula. Muito já avisaram a Moro que esse ato marcará o seu declínio, já que se tornará uma figura supérflua. Mas isso pode não ter sido bem compreendido por ele.
Fonte: O Cafézinho