A lista de venda de ativos da Petrobras vai do poço ao botijão. A estatal se prepara para se desfazer da Liquigás, subsidiária que é a segunda maior distribuidora de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o gás de botijão, com uma fatia de 22% do mercado. Segundo um executivo próximo das negociações em curso para a venda da companhia, a Petrobras receberá as propostas no dia 19. As empresas interessadas, porém, pedem para que o prazo seja prorrogado até o dia 30, o que ainda está sendo avaliado. A expectativa é que o vencedor seja anunciado em setembro. O valor estimado pelo mercado para a operação fica entre R$ 2,2 bilhões a R$ 2,5 bilhões
As maiores distribuidoras de GLP do país estão na disputa pela Liquigás: a Ultragaz — do grupo Ultra, líder do mercado, com participação de 23,5% — e a Supergasbras, do grupo holandês SHV, a terceira maior, com fatia de 20,44%. Além delas, Nacional Gás e Copagaz também estão interessadas. Elas detêm fatia de 19,44% e 8,25%, respectivamente, do mercado de GLP. Correm por fora o fundo Gávea Investimentos, de Arminio Fraga, e a empresa turca Aygaz.
Temer já vendeu pré-sal
Depois de anunciar, na semana passada, que se desfez de sua participação de 66% no Campo de Carcará, no pré-sal da Bacia de Santos, a Petrobras conseguiu US$ 4,6 bilhões. A petroleira já anunciou a venda de participação na Gaspetro e de ativos na Argentina e no Chile.
Segundo um executivo do mercado, a Ultragaz é considerada uma das candidatas mais fortes. O interesse da empresa líder do mercado causa preocupação no setor de revenda. Caso ela saia vencedora, passaria a ter fatia de mais de 45% do mercado. Atentas ao risco de concentração no setor, Nacional Gás e Copagaz pretendem se unir em consórcio. Em caso de vitória, cada uma ficaria com uma parte da empresa, dividindo a companhia de acordo com os mercados em que elas detêm maior ou menor participação. A Liquigás está presente em 23 estados.
Diante da turbulência política na Turquia, a expectativa é que, apesar do interesse da Aygaz, a empresa não seja uma forte competidora. Neste cenário, a disputa seria travada principalmente entre as concorrentes do mercado doméstico de GLP.
Para fugir do risco de um julgamento no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por concentração de mercado, a Ultragaz incluiria na proposta o pedido para que sua participação de mercado seja avaliada somando não apenas o GLP, mas todo o mercado de gás natural, segundo uma fonte a par da negociação.
O presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP (Asmirg-BR), que reúne 60 mil empresas em todo o país, Alexandre Borjalli, ressalta o risco de concentração:
Quando a Petrobras comprou a Liquigás há 12 anos, se dizia que era para ser um balizador do mercado. No entanto, a Liquigás passou a fazer parte do cartel dominado pelas cinco maiores empresas. Se o Ultra comprar, vai ficar com quase 50% do mercado. Isso será péssimo não só para a revenda, mas para os consumidores.
Borjalli aponta, ainda, um suposto conflito de interesses já que o diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, foi conselheiro do grupo Ultra.
O presidente da Associação Brasileira de Entidades de Classe das Revendas de Gás LP (Abragás), José Luiz Rocha, também teme a maior concentração do mercado:
Estamos preocupados com a concentração de mercado, que hoje já tem 94% do total nas mãos de cinco distribuidoras, reduzindo ainda mais a concorrência. A ausência de concorrência não é boa para o revendedor nem para o consumidor. Seria interessante que novos grupos de investidores comprassem a Liquigás, e mantivessem a rede da Liquigás intacta.
Cleveland Prates, professor da FGV e ex-conselheiro do Cade, avalia que, dependendo da empresa que adquirir a Liquigás, haverá concentração de mercado. Mas destacou que o Cade avalia outras questões, como a superposição das empresas nos vários estados em que atuam e outras questões de mercado. Jornal O Globo.
Fonte: Gazeta Notícias