Nov 26, 2024
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Estudantes ocupam Colégio Julio de Castilhos em protesto por condições precárias e falta de segurança

O tradicional Colégio Estadual Julio de Castilhos, localizado mas imediações da Av. João Pessoa, é mais um colégio de Porto Alegre que está ocupado por estudantes em protesto contra as precárias condições de estrutura, os atrasos nos repasses das verbas de manutenção, a falta de segurança no entorno da escola e em apoio à luta dos professores contra o parcelamento de salários e pela falta de reajuste salarial. Alunos e professores também temem que a administração do colégio possa ser terceirizada para Organizações Sociais (OSs), como já ocorre em outros Estados. Com o Juilinho, chega a quatro o número de escolas ocupadas na Capital.

 

A ocupação no Julinho começou às 19h de quinta-feira com a intenção de permanecerem no local por 24h. Segundo os organizadores, cerca de 50 estudantes, acompanhados por alguns pais e professores, passaram a noite na escola. Na manhã desta sexta-feira, em assembleia realizada antes das 9h, que teve a adesão de mais estudantes que chegaram para acompanhar as aulas do dia, foi aprovada a manutenção da ocupação pelo menos até às 19h de hoje.

 

“Está sendo uma organização horizontal e não puxada pelo pessoal do grêmio. Se no final do dia, em votação, os alunos optarem por continuar, a gente continua, sempre priorizando assembleias, trabalhando a democracia e a horizontalidade aqui dentro”, afirma Brisa Davi, 16 anos, aluna do 3º ano e presidente do Grêmio Estudantil do Julinho.

 

Inicialmente, a intenção era de que as aulas marcadas para após o intervalo do turno fossem realizadas. Porém, na assembleia, foi decidido o cancelamento. Uma nova assembleia deve ocorrer no final da tarde – após a conclusão da assembleia geral do Cpers que deve determinar o início de uma greve geral da categoria – para definir se a ocupação se estenderá além das 19h.

No início da manhã, alguns alunos deram entrevista a canais de televisão dizendo que gostariam de ter aula e eram contra a ocupação. Brisa diz que compreende a posição, mas afirmou que eles estavam convidados a se juntar à ocupação.

“A gente entende o lado das pessoas que estão contra a ocupação. Elas não tiveram aula hoje e isso foi um dano, de certa forma, mas a gente pensa em construir juntos. Elas estavam convidadas para continuar aí até para ficar durante o dia nos questionando”, diz. “A gente sabe que, em um movimento, sempre vai ter gente contra e a favor, mas, como isso foi decidido em assembleia e a ampla maioria definiu por continuar com a ocupação, a gente definiu pelo o que a maioria queria”, complementou.

Segundo Brisa, a ocupação no Julinho foi inspirada pelos movimentos estudantis que se iniciaram em São Paulo e se espalharam para outros Estados, mas que não há coordenação com as primeiras escolas ocupadas na cidade. Por outro lado, ela confirmou que o grêmio do colégio articulou sua ação em conjunto com estudantes da Escola Padre Reus, localizada no bairro Tristeza, que também está ocupada por ao menos 24h desde a noite de ontem.

Apesar de o movimento ser encabeçado por estudantes, ele conta com apoio de professores e da direção da escola. “É uma excelente iniciativa. Está ocorrendo um ataque brutal à educação pública, não só no RS.  “O Sartori já aprovou a lei que entrega a gestão das escolas para organizações sociais, ou seja, coloca a iniciativa privada dentro da escola pública. Já estamos fazendo um ano de salários parcelados, defasagem salarial de 70% em relação ao piso, atraso no repasse das escolas, isso se reflete na falta de condições”, diz o professor de Filosofia Osmar Luís Tonini. “Aliado a isso, ainda querem calar os educadores com o projeto de lei, do deputado Marcel Van Hattem, da escola sem partido. Se for aprovada a lei, não se pode mais debater temas como questões de gênero, sexualidade, religiões, principalmente as de matriz africana, e também a política. Ou seja, querem nos massacrar e querem nos calar”.

O secretário adjunto, Luís Antônio Alcoba de Freitas – o titular Vieira da Cunha está de férias -, esteve no Julinho nesta manhã para conversar com a direção da escola e estudantes. Ainda não há um posicionamento oficial da Seduc sobre a ocupação. No entanto, ontem, a pasta emitiu nota sobre as ocupações das escolas Colégio Estadual Coronel Afonso Emilio Massot e Escola Agrônomo Pedro Pereira, as duas primeiras escolas a serem ocupadas na Capital,  em que afirmava que estava regularizando débitos pendentes e buscando solucionar o déficit de professores.

Reivindicações

Em um ofício que será entregue à Secretaria de Educação (Seduc), os estudantes reivindicam manutenção e reforma da estrutura física da escola, melhoria das condições de segurança, preenchimento das vagas de professores em aberto.

Em relação às condições físicas, eles reclamam que o ginásio de esportes está parcialmente interditado desde o início do ano por problemas no piso, que há infiltrações, especialmente no terceiro andar, que levam a interdições de parte do colégio em dias de chuva. “Às vezes chove dentro da sala de aula. De verdade. De alagar totalmente, principalmente as salas do canto”, diz Brisa.

Com relação à segurança, eles reclamam que os alunos da escola são alvos constantes de assaltos e até arrastões, especialmente no turno da noite, porque o entorno da escola é mal iluminado. “A gente queria que tivesse mais segurança porque está super perigoso. Na quinta-feira teve arrastão e o pessoal que saiu da escola voltou correndo para tentar se refugiar na escola”, relata Brisa.

Nesta sexta-feira, o Cpers se reúne em assembleia geral para deliberar sobre a realização de greve. A tendência é que eles aprovem a paralisação. Segundo Brisa, esta posição é apoiada pelos alunos que participam da ocupação. “Uma educação de qualidade se faz com professores de qualidade. Para a gente ter um ensino de qualidade, a gente precisa ter professores bem pagos pelo serviço deles e isso não está acontecendo. Então, a gente dá total apoio a luta dos professores”.

Fonte: Sul 21

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