Um grande retrato da revolucionária marxista Rosa Luxemburgo decora o escritório de Nikos Samanidis, um dos membros-fundadores da Coalizão da Esquerda Radical – ou Syriza, como o partido é conhecido entre os gregos.
O Syriza venceu as eleições gerais gregas deste domingo – em que concorreu contra o Nova Democracia, do primeiro-ministro Antonis Samaras – e deve se tornar o primeiro partido antiausteridade a tomar o poder na zona do euro.
Sua vitória não só lança um manto de incertezas sobre a relação da Grécia com a União Européia, como analistas acreditam que pode dar fôlego a outros partidos de extrema esquerda europeus (como o Podemos, na Espanha).
No que diz respeito a suas propostas, o Syriza não só se opõe ao resgate internacional da Grécia e às medidas de austeridade como quer renegociar parte da dívida externa grega.
Essas promessas têm gerado nervosismo nos mercados financeiros e já se especula sobre uma possível saída da Grécia da zona do euro.
Para o líder do partido, Alexis Tsipras, a vitória do Syriza representa o fim de um processo em que a Grécia estaria sendo “humilhada” por outros países europeus. “Vamos acabar essas ordens vindas do exterior”, prometeu.
Mas também há quem anteveja períodos de maior turbulência para o país com a vitória do partido.
Nascido em 2004 como uma coalizão de treze grupos e partidos políticos que inclui maoistas, trotskistas, comunistas, ambientalistas, social-democratas e populistas de esquerda, o Syriza tinha pouca força eleitoral até 2012.
Em seus primeiros oito anos, a agremiação nunca conseguiu obter mais de 5% da preferência do eleitorado.
A popularidade de Tsipras, porém, parece ter sido impulsionada pela crise econômica que nos últimos cinco anos empurrou um quarto dos trabalhadores gregos para o desemprego.
Desde 2010 a Grécia vem implementando medidas como o aumento de impostos e cortes de gastos públicos, seguindo um script imposto pela União Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu em troca de um pacote de resgate para sua economia.
Nas eleições gerais de 2012, com o aprofundamento da crise, o Syriza levou 27% dos votos, passando os sociais-democratas para se tornar a segunda força política da Grécia e a principal voz da oposição.
Tsipras, um líder político jovem (tem 40 anos) e carismático, foi fundamental nessa transformação do Syriza.
Conhecido por seus discursos empolgantes e sua aversão a gravatas, ele assumiu a liderança do partido em 2008 e foi eleito para o Parlamento em 2009.
“A crise econômica e o colapso dos partidos tradicionais certamente ajudaram a aumentar a influência do Syriza, mas foi Alexis Tsipras que catapultou o partido”, opina Christoforos Vernardakis, professor de ciência política da Universidade Aristóteles de Salonica e fundador do instituto de pesquisas VPRC.
“Isso aconteceu porque Tsipras é jovem e parece não ter medo. Ele pegou uma esquerda que estava na defensiva e a transformou em uma opção crível para o governo.”
Para seus simpatizantes, Tsipras é um líder nato, que trata com respeito quem está a seu redor. “Ele gosta de processos e decisões coletivas”, diz Samanidis.
Nikos Karanikas, um velho amigo e colega de partido, diz que, apesar da ter se tornado um líder político proeminente, Tsipras continuou vivendo no bairro de classe média de Kypseli, em Atenas, e trabalhando como engenheiro civil.