A dias da abertura da Copa do Mundo no Brasil, o ex-jogador Ronaldo Nazário, um dos dirigentes do Comitê Organizador Local, deu declarações desastradas sobre o evento e sobretudo sobre o país. Se ainda estivesse na ativa, teria sido como chutar um pênalti para fora.
Não foi a declaração de voto e até quem sabe de compor um eventual governo de Aécio Neves (PSDB-MG) que está em questão: pois isso qualquer cidadão tem o direito de escolher e declarar. O desastre foi falar que "sentia vergonha" do Brasil por atrasos em obras da Copa.
Claro que quanto antes qualquer obra ficar pronta, é sempre melhor e mais confortável, mas a Copa tem data certa para começar e, desde que fique pronta no limite, não compromete o evento. É um atraso dentro do tolerável, e isso pode ser motivo para algum estresse, mas não é para vergonha.
Primeiro porque outros países que já sediaram o evento também tiveram seus atrasos. Não é exclusividade do Brasil. Segundo, porque nada disso que ocorre nos bastidores tira o brilho do evento principal. É como espetáculos teatrais, onde a estreia bem-sucedida é o que interessa, pouco importando os percalços ocorridos nos ensaios. É como se diz no próprio futebol: treino é treino, e jogo é jogo.
É até pouco inteligente, para uma pessoa que tem sua imagem profissional ligada ao futebol como Ronaldo, dar destaque a aspectos negativos da preparação, em vez de se valorizar o próprio evento em si. E é fraqueza se deixar abater com o que o ocorre nos ensaios, nos preparativos.
Óbvio que um país-sede tem de cumprir os compromissos de ter os estádios adequados, uma infraestrutura de comunicação e segurança que suporte as necessidades, e estrutura de hospedagem e de transporte suficientes, e tudo isso o Brasil teve a tempo. Fora isso, cada país tem suas características e sua cultura, e não há nada do que se envergonhar.
Ronaldo deveria liberar um pouco mais o Macunaíma que existe dentro dele e da alma brasileira, e ver que o Brasil interessante é aquele que reafirma sua identidade, em vez de apenas imitar padrões estrangeiros. Foi assim na Semana de Arte Moderna, no surgimento do Cinema Novo e da Bossa Nova, é assim em comemorações populares como carnaval e as festas juninas e assim é também no próprio estilo do futebol brasileiro, chamado pelo mundo de futebol arte.
Cerca de 18 mil jornalistas virão cobrir a Copa. Poucos chatos estarão interessados em procurar uma goteira em aeroporto, ou no "making off" de Jérôme Valcke, ou nas lamúrias de colunistas de jornais brasileiros que Ronaldo repete. Além da cobertura esportiva, estarão interessados nas características do país, do povo, da cultura, das diferenças, do modo de vida, da culinária.
Encontrarão um país democrático, vibrante, onde as manifestações são livres, onde qualquer grupo pode protestar pelos mais diversos motivos. Até contra a Copa. Com um povo diverso, desigual no dia a dia, mas misturado na hora da festa nas ruas, como ocorre todo ano no carnaval.
Sem qualquer ufanismo, as cidades sedes proporcionam muito o que fazer para o turista e rende boas matérias para qualquer correspondente estrangeiro. Convenhamos, o Brasil tem atrativos bem mais interessantes do que têm a Coréia e o Japão, e há por aqui muito mais diversidades do que na Alemanha. Tem tudo para ser uma Copa inesquecível e que a expectativa se concretize é coisa que também está sob nossa responsabilidade.
É este lado da Copa que Ronaldo deveria estar olhando. Senão por virtude, por esperteza, afinal ele ganha a vida sendo garoto propaganda e empresariando promoções esportivas
Rede Brasil Atual