As duas medidas combinaram melhores condições de financiamento para os fornecedores nacionais, com maior atuação do BNDES, uma nova politica de determinação de um percentual mínimo de conteúdo nacional e o desenvolvimento – que incluiu a criação de um grande fornecedor de plataformas, a Sete Brasil, capaz de ser competitivo globalmente.
Nesse contexto, medidas como o Repetro – que reduzia impostos para importados do setor de óleo e gás – tinha um papel importante, mas pontual, de fornecer às operadoras de petróleo e gás equipamentos ainda não produzidos em território nacional.
Essa combinação de política públicas garantiu a compra de bens e serviços de toda natureza para implementação dos grandes investimentos do setor e, ao mesmo tempo, alavancou o desenvolvimento industrial carioca recuperando os fornecedores nacionais de engenharia, construção civil e bens de capital. Somente na indústria naval, o número de empregados já tinha crescido absurdamente saindo de algo de 11 mil trabalhadores, em 2002, para mais de 71 mil, em 2014. Nas demais atividades de apoio à extração de petróleo (metal-mecânica, máquinas e equipamentos e serviços de engenharia), somente no Norte Fluminense, os empregos cresceram a uma taxa elevadíssima, alcançando 44 mil pessoas em 2014.
Não por o acaso, logo após o estelionato eleitoral à presidente Dilma Rousseff, o roteiro dos golpistas foi a destruição sequencial de cada uma dessas políticas. Primeiro, a Petrobras – principal demandante da Sete Brasil – reduziu suas encomendas (de 28 para 4 sondas), praticamente inviabilizando o funcionamento da empresa. Segundo, o Ministério de Minas e Energia reduziu a necessidade de conteúdo nacional nas licitações de exploração e produção de petróleo favorecendo a contratação de empresas estrangeiras.
E, por fim, o Ministério da Fazenda destruiu as linhas de crédito preferenciais do BNDES e estendeu o uso de subsídios fiscais para a importação de bens e serviços pelas empresas de petróleo, o conhecido Repetro. Nesse caso, diferente de antes, com a destruição das demais políticas o Repetro se torna um instrumento de transferência da produção nacional para o exterior.
Embora a grande mídia tente minimizar a extensão do Repetro, tratando-a apenas como um instrumento necessário para atender as necessidades do pré-sal, ela esconde sua real intenção: a subordinação aos interesses estrangeiros e a destruição de um complexo industrial nacional que, gradualmente, passava a confrontar os interesses estrangeiros para fornecer bens e serviços à Petrobras. O lobby britânico em relação à mudança do conteúdo local e o apoio ao golpe é exemplar: a destruição da politica de conteúdo e a isenção às importações de bens e serviços eram condições necessárias para o apoio político e financeiro ao golpe de Estado. No pacote, em troca de tal apoio estava a entrada das empresas estrangeiras no pré-sal junto com os fornecedores dos seus países de origem.
Ou seja, na prática, os europeus (assim como americanos e chineses) não querem apenas o petróleo do pré-sal, mas querem a renda e os empregos gerados aqui no Brasil. E, agora, com o Repetro, eles querem também manter a redução dos impostos pagos aos governos estaduais, no período mais agudo da crise econômica.
No entanto, no atual estágio do golpe, a lógica é a da rapinagem: entregar e vender tudo, o mais breve possível e sem pudor, para os financiadores do golpe. Ao aceitar as condições impostas pelo Repetro, o Rio de Janeiro joga “uma pá de cal” na possibilidade de concorrência dos fornecedores nacionais, já fragilizados pelos desinvestimentos da Petrobras, pelo fim da política de conteúdo local e pela destruição do BNDES. Acabam-se os postos de trabalho, o parque produtivo e um pouco mais das receitas fiscais do estado fluminense.
Se tratando de um governo federal tão incompetente, incapaz de lidar com as demandas mínimas do povo brasileiro, uma coisa é de se admirar: a excepcional capacidade de destruir em menos de um ano toda uma política que beneficiou milhares de trabalhadores e empresas brasileiras. Que o povo não se engane: o horror da elite que conduz esse projeto não se resume à classe trabalhadora, mas sim a tudo que é nacional. Londres, Nova Iorque e Pequim agradecem.