O plenário do Senado está com luzes apagadas e sem som. As bravas senadoras da oposição utilizaram a língua que a escória governista entende, a da força. Impedem que seja reiniciada a sessão que fará baixar um manto de trevas sobre os direitos sociais brasileiros.
As classes dominantes brasileiras nunca engoliram a CLT. Permaneceram 44 anos com essa pedra na garganta. A ditadura buscou mitigar seus efeitos, mas a reforma trabalhista do “mercado” vai além: nos leva a um mundo pré 1943, pré-Getúlio, pré 1930. Ela nos remete a algum ponto antes de 1917.
Naquele ano, os grevistas de São Paulo reivindicavam, entre outras coisas:
1. Liberdade de associação. Um século depois, a reforma busca destruir sindicatos, com o fim do imposto e com a negociação individual,
2. Proibição de trabalho para menores de 14 anos. Podemos ter a selva, com o fim de qualquer regra e
3. Jornada de 8 horas. Pelas novas normas, isso acaba.
O fim da CLT não atinge apenas quem trabalha. Ela desorganiza a sociedade. Os sindicatos representam uma poderosa e eficiente teia de assistência e organização para os de baixo. Sem as entidades, outras estruturas ocuparão esse lugar. Podem ser igrejas variadas, pode ser o crime organizado, pode ser a barbárie nas relações sociais.
O liberalismo no mercado de trabalho desqualifica a educação formal do trabalhador. Sem estabilidade ou previsibilidade alguma, ele não terá incentivo pra se aprimorar ou se capacitar. Hoje faz um bico aqui, amanhã será temporário ali.
Com o previsível achatamento dos salários, o mercado interno se encolhe, o poder de compra desaba, a arrecadação cai e os serviços públicos evaporam.
Em economia existe o conceito de “efeito multiplicador” para se designar determinadas ações ou atividades que induzem outras e que funcionam como alavancas da atividade econômica. O efeito multiplicador do emprego na indústria automobilística, por exemplo é, em média, de 1 para 10, ou seja, cada posto na indústria gera tantos outros nas fábricas de autopeças, oficinas, comércio, redes de financiamento etc.
A reforma trabalhista tem impulso contrário. A palavra não existe, mas ela apresenta uma espécie de efeito desmultiplicador muito forte. Cada vaga perdida e cada carteira de trabalho descartada gera um corrosivo efeito cascata no tecido social difícil de ser calculado.
A deforma nos leva ao buraco, destrói laços societários, gera o cada-um-para-si e o todos contra todos, numa escala ainda maior. É a porta aberta para o individualismo, a falta de solidariedade e a competição selvagem por migalhas. É o terreno do apagão nacional.
Por isso, a votação de hoje no Congresso tem de ser impedida a qualquer custo.
A escuridão do Senado é uma luz para as lutas em toda a sociedade.
As valentes senadoras são nossa vanguarda iluminista neste momento!
Gilberto Maringoni pe jornalista, cartunista e professor universitário. Artigo extraído do Portal DCM em 11 de julho de 2017.