*João Antônio de Moraes -
No dia 20 de fevereiro, o ex-presidente da FUP e agora diretor de Relações Internacionais e Empresas Privadas, João Antônio Moraes, veio a Porto Alegre a convite do CPERS para realizar uma palestra sobre a importância do pré-sal na educação. Na saída, Moraes conversou com o Sindipetro-RS e falou sobre a crise na Petrobrás, os ataques da grande mídia, esclareceu sobre os valores das ações da empresa no mercado financeiro, os prêmios que a empresa recebeu em 2014, o acidente no Espírito Santo e a recente vitória do representante dos trabalhadores no CA, Deyvid Bacelar. Vale a pena conferir a entrevista.
Sindipetro-RS- A Petrobrás está enfrentando um dos piores momentos de sua história. De que forma a categoria petroleira pode agir para resgatar a imagem da empresa junto ao povo brasileiro?
Moraes - Eu discordo que é a pior crise, isso é uma crise de imagem. A imagem da empresa vem sendo atacada pelos meios de comunicação. Penso que é importante a nossa categoria, o nosso sindicato, a federação, a central sindical, se dedicar a esclarecer à sociedade que hoje existem duas Petrobrás: uma Petrobrás do mundo real, que investe, que produz todos os dias e a cada minuto. Essa é um sucesso total. E outra Petrobrás, uma que vem frequentando as manchetes de jornais e as redes sociais. Essa é uma Petrobrás de imagem afetada, de certa forma desmoralizada. Nós trabalhadores petroleiros temos que nos desempenhar para trazer à luz a outra Petrobrás, aquela que nós enxergamos todos os dias. Essa bateu todos os recordes em 2014. Os recordes de refino, de produção, por ter sido a maior produção da história da Petrobrás, notadamente a produção de petróleo cru no pré-sal. Vale lembrar que o pré-sal, que fez crescer mais a produção do nosso óleo, começou a produzir em sete anos um volume comercial, enquanto a média, depois de confirmada a existência de petróleo em novas províncias no mundo, é da ordem de 15 anos. Portanto, a Petrobrás, e seus trabalhadores, começaram a produzir o pré-sal na metade do tempo em que ocorre no restante do mundo, e isso está acontecendo todos os dias. A Petrobrás Biocombustível teve um amento na sua produção de álcool em 2014 de quase 20%. Também no ano passado, nós recebemos pela terceira vez na história o prêmio da OTC, que é considerado o Nobel da Indústria do Petróleo Mundial, graças à produção de petróleo no pré-sal. Ainda em 2014, a Petrobrás também ultrapassou a Exxon Mobil como a maior produtora de petróleo com capital aberto no mundo. Então, essa é a Petrobrás operacional que nós enxergamos todos os dias.
A grande mídia vem batendo diariamente na Petrobrás. A imagem que querem passar é de uma empresa falida e com milhões de dívidas. O que essa mídia está deixando de contar?
Moraes - A Petrobrás que aparece na grande imprensa é a que supostamente está afundada em corrupção, que tem suas ações desvalorizadas pelo mercado de capital. Parece até que, a corrupção na Petrobrás foi inventada nos últimos anos. Essa é a Petrobrás dos Paulo Roberto, dos Barusco da vida, que é muito diferente da Petrobrás dos seus técnicos e operários. Cabe a nós lembrarmos a sociedade brasileira disso. Primeiro porque corrupção ela tem uma história em nosso país. E agora também estamos sabendo que tem uma história na Petrobrás e que nós temos que ter uma posição muito clara e contundente. Cometeu coisa errada, se corrompeu, apura-se e puna-se os culpados. Essa é uma posição dos trabalhadores petroleiros. Outra questão são os valores das ações que se embolou no meio dessa história. Não é verdade que as ações tem caído devido a corrupção. Nos últimos 12 meses o petróleo no mundo despencou de preço, de mais de $100 para aproximadamente $50. Isso aconteceu principalmente por um enfrentamento dos Estados Unidos aliado a Arábia Saudita, que está enfrentando a Rússia, o Iran e a Venezuela, e portanto, derrubou o preço de petróleo. Isso derrubou o valor das ações de todas as petrolíferas do mundo e não só da Petrobrás. Para que se tenha uma idéia, esse petróleo caiu cerca de 46% no mercado nos últimos doze meses. Já as ações da Petrobrás caíram 47%, fica fácil todo mundo perceber que a queda das ações da Petrobrás está muito mais vinculada a essa questão do que qualquer outra. Repito: isso tem acontecido também com outras empresas. Várias grandes petrolíferas tiveram prejuízos em 2014. Os lucros caíram por essa mudança no cenário do petróleo. Mas encerro fazendo uma outra pergunta: Seria possível termos todos aqueles resultados operacionais excelentes que eu mencionei, se a Petrobrás de fato fosse essa empresa quebrada e afundada na corrupção que mencionam? Como trabalhador eu tenho certeza que não! Uma empresa que esteja completamente paralisada em função da corrupção não conseguiria ter esses números, agora lamentavelmente esses dados operacionais têm sido escondidos do povo brasileiro pelos grandes meios de comunicação. Cabe a nós petroleiros e a imprensa sindical divulgar esses dados e mostrar essas duas Petrobrás para que o povo brasileiro decida qual é a maior. Da nossa parte não temos dúvida, a Petrobrás operacional e produtiva dos seus 85mil trabalhadores diretos e 300mil indiretos é muito maior do que a Petrobrás dos corruptos.
Em meio aos escândalos de corrupção, levantados pela Operação Lava Jato, qual a postura que o trabalhador petroleiro deve tomar?
Moraes - A nossa conduta junto à sociedade, na família, nos vizinhos, não pode ser, de forma alguma, ficar acuados com esse debate. Temos que encarar isso de frente, pontuarmos claramente que os 85 mil trabalhadores próprios e os mais de 300 mil trabalhadores indiretos estão desvinculados dos mecanismos que permitiram a ocorrência desses eventos que estão sendo analisados, ou seja, o grosso dos petroleiros não assinam contratos, não discutem com empreiteiras, no máximo trabalham para elas. Portanto, a Petrobrás é muito maior que essa meia dúzia que se envolveram nessas questões. Segundo que esses quase 400 mil trabalhadores são totalmente favoráveis para que sejam apurados e punidos os culpados. No entanto, também não podemos deixar de discutir com a sociedade que os grandes meios tem deixado de discutir sobre o pretexto dessa apuração, os grandes meios de comunicação tem escondido os imensos resultados operacionais positivos que tivemos em 2014, conforme abordamos. Ou seja, é obrigação nossa passar isso à sociedade. Por exemplo, há mais de 35 anos não se inaugurava uma refinaria em nosso país, no ano passado nós inauguramos a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que será fundamental para abastecer o país de gasolina, de gás, de óleo diesel, que estava fazendo falta no Brasil, porque o país estava importando tudo isso. Agora o Brasil terá acesso aos derivados e vamos economizar divisas. Nós temos que dialogar com a sociedade brasileira que queremos a transparência e a punição dos culpados, mas também queremos que seja mostrado ao país o que representa a Petrobrás a nossa economia, o que representa o nosso trabalho, e que temos inúmeros motivos para nos orgulharmos. Somos uma das maiores empresas do mundo, desenvolvemos tecnologia para produzir petróleo no pré-sal, o que ninguém tem, só nos brasileiros conseguimos chegar lá. Nós não aceitaremos ser punidos pelo o que meia dúzia fizeram, os trabalhadores petroleiros não têm que ficar acuados. Primeiro porque nessa postura tem que separar o que está errado. Segundo, na Petrobrás e não somente nela, todas as grandes empresas brasileiras tem situações parecidas, o chamado financiamento empresarial privado de campanha política. Enquanto tiver financiamento de partido político no Brasil, haverá corrupção, enquanto houver terceirização, haverá corrupção. Os trabalhadores da Petrobrás não têm nada a ver com isso, somos favoráveis apuração e punição.
O navio-plataforma onde ocorreu a tragédia na semana passada é afretado da Petrobrás. Você acha que se fosse próprio, os riscos de acontecerem acidentes desta natureza poderiam ser menores?
Moraes - Nós, da Federação Única dos Petroleiros, há muito tempo denunciamos que a terceirização exagerada das empresas de petróleo tem elevado as situações de grandes riscos, os números compravam isso. A cada 10 mortes que ocorrem no sistema Petrobrás, 9 são de trabalhadores terceirizados. Geralmente os companheiros terceirizados trabalham em condições de trabalho inferiores, salários inferiores, jornadas de trabalhos maiores, treinamentos e ate EPIs de qualidade inferiores. Portanto, nós relacionamos segurança no trabalho com terceirização. Assim como relacionamos corrupção com terceirização. Não quero nessa entrevista fazer qualquer delação direta sobre o acidente que aconteceu no Espírito Santo, que ainda será objeto de apuração, com a presença de um representante da FUP. Entretanto, isso não significa que a Petrobrás é isenta na questão de saúde e segurança, tanto que acontece acidentes com os trabalhadores próprios, os helicópteros na Bacia de Campos é o caso mais gritante, por exemplo. Então não tem isenção para nenhuma empresa nisso. Agora, quero reafirmar que terceirizar e risco caminham juntos. No caso do Espírito Santo, era uma plataforma afretada, mas não podemos ser levianos, temos que aguardar um apuramento mais preciso.
Recentemente os trabalhadores elegerem o companheiro Deyvid Bacelar para o representante dos trabalhadores no C.A da Petrobrás. Sendo o Deyvid representante da FUP, o que podemos esperar desse pleito?
Moraes - Primeiro que o companheiro Deyvid é um grande militante petroleiro, atual coordenador geral do Sindipetro Bahia. Temos ótimas expectativas ao mandato dele na frente do CA. Segundo, é importante ter uma estrutura em torno do conselheiro, seja ela política, material, social, para que o conselheiro possa ter informações e a partir disso desenvolver um grande trabalho. Ser eleito para o CA de uma empresa como a Petrobrás faz com que um militante sindical tenha que discutir e se envolver com temas que não é muito o nosso dia a dia, mas que é fundamental para os trabalhadores ter um representante atuando nessa área. Por isso, nós lutamos na FUP e na CUT para conquistar o direito de eleger esse trabalhador e queremos durante esse mandato contribuir para o que companheiro Deyvid desenvolva um bom trabalho, discutindo questões estruturais que afetam no dia a dia do trabalhador. Um exemplo disso é discutir um investimento numa refinaria pode significar a diferença entre a saúde e segurança depois na operação dessa mesma refinaria, na plataforma ou no terminal. Portanto, entendemos que os trabalhadores reúnam condições para fazer esse debate que até aqui foi negado ao povo, foi preciso eleger um operário para que no final do seu mandato ele sancionasse essa lei. Entendemos também como discriminatória o fato do representante não poder discutir questões diretas aos trabalhadores, como salário, fundo de pensão. Essa luta a FUP também estará fazendo, para que a gente mude essa lei e acabe essa discriminação. Portanto queremos deixar claro à categoria que nós agradecemos o voto, e nos comprometemos como Federação Única dos Petroleiros e seus Sindicatos para que ele tenha um mandato que possa agregar muitas contribuições ao trabalhadores , para a Petrobrás e para o Brasil. Sabemos que um candidato apoiado pela FUP tem melhores condições de fazer isso que os candidatos anteriores, que apostavam muito mais numa marcação de posição do que de fato se estruturar e se organizar para representar bem os trabalhadores.
* Diretor da Federação Única dos Petroleiros