Em que pese a boa produção legislativa em 2013 para a classe trabalhadora tendo sido aprovada a PEC das Domésticas, a isenção para os trabalhadores do IRPF da parcela referente à participação nos lucros e resultados das empresas, entre outras leis, vale destacar o papel decisivo da bancada sindical no combate a ameaças aos assalariados, em especial aquelas que retrocedem nas relações de trabalho e com origem no Congresso Nacional.
O principal embate travado entre capital e trabalho no Poder Legislativo foi a regulamentação da terceirização consubstanciada no PL 4330/2004, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), um dos principais articuladores dos interesses empresariais no Congresso Nacional.
A base do debate é o substitutivo do deputado Arthur Maia (SDD-BA), apresentado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e que define a terceirização a partir de empresas especializadas. A proposta apresenta divergência em vários pontos e foi duramente combatida pelas representações dos trabalhadores.
A regulamentação da terceirização não avançou, mesmo após a realização de uma série de reuniões coordenadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pela Secretária Geral da Presidência da República. Vários textos foram apresentados, mas todos, aquém das necessidades dos trabalhadores.
Além disto, o tema foi intensamente debatido em Comissão Geral realizada na Câmara dos Deputados. O relator do PL 4.330 recuou em alguns pontos retirando, por exemplo, o artigo que recriava a “emenda 3”, ou seja, a "pejotização" dos trabalhadores, mas ainda assim a matéria não obteve consenso necessário para sua apreciação.
Entre os pontos ainda divergentes, destaque para quem representará os trabalhadores terceirizados e a definição do que poderá ser terceirizado na atividade fim das empresas.
Atuação articulada das entidades sindicais junto aos parlamentares foi fundamental para o posicionamento dos líderes das bancadas do PT, PSB e PCdoB, contrários a matéria. As outras agremiações estão divididas ou convergentes a favor da proposta empresarial.
Outra iniciativa combatida pelos trabalhadores é o Simples Trabalhista. Em que pese a boa intenção do autor com a matéria, a proposta foi alvo de crítica desde a sua concepção. Atendendo a um apelo da classe trabalhadora, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), autor do PL 951/2011, pediu a retirada de tramitação do projeto.
A ameaça mais recente em tramitação na Câmara dos Deputado é a volta do debate do “negociado sobre o legislado” por meio PL 4.193/2012, do deputado Irajá Abreu (PSD-TO). A proposição resgata a famigerada iniciativa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não logrou êxito no Congresso Nacional graças à atuação combativa dos assalariados. O tema é polêmico e não agrada a classe trabalhadora.
O PL 4.193 tramita na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados onde já houve uma audiência pública para debater o tema. Na ocasião, as divergências vieram à tona e o presidente do colegiado, deputado Roberto Santiago (PSD-SP), firmou compromisso e não colocou a proposta em votação em 2013.
As vitórias conquistadas em 2013 são de extrema relevância e demonstram a força dos trabalhadores na manutenção dos seus direitos. Mas, as ameaças continuam tramitando no Parlamento e poderão ser analisadas a partir de fevereiro.
Para combater as ameaças no Congresso Nacional, além de unidade de ação dos trabalhadores através de suas entidades – sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais – é necessário a ampliação da bancada sindical nas Casas Legislativas. Com a atual composição na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, os trabalhadores estão em desvantagem e os seus direitos em permanente ameaça.
Outra forma de atuação importante dos trabalhadores deve ocorrer pela aproximação com o Poder Executivo. A base do Governo tem maioria no Congresso Nacional e pode contribuir decisivamente na mediação das demandas da classe trabalhadora.
A presidente Dilma Rousseff, seguramente, fará o possível para ampliar o diálogo com as entidades de representação dos trabalhadores, com empresários e a sociedade civil organizada.
Esses atores sociais são imprescindíveis para o apoio e fortalecimento da governança além de contribuir para a manutenção do País nos trilhos do desenvolvimento e da consolidação da democracia.
Projetos que ameaçam direitos dos trabalhadores |
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Tema |
Proposição |
Situação |
Regulamentação da terceirização |
PL 4.330/2004 |
Encontra-se no plenário da Câmara dos Deputados |
Simples Trabalhista |
PL 951/2011 |
Retirado de tramitação na Câmara dos Deputados |
Acordo extrajudicial de trabalho |
PL 5.101/2013 |
Aguarda parecer do relator, deputado Ronaldo Nogueira (PTB-RS), na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados |
Impedimento do empregado demitido de reclamar na Justiça do Trabalho |
PL 948/2011 |
Aguarda votação do parecer favorável do relator, deputado Corte Jorge Real (PTB-PE), na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados |
Suspensão de contrato de trabalho |
PLS 62/2013 |
Aguarda votação do parecer do relator, senador Sérgio Souza (PMDB-PR), pela aprovação na forma de substitutivo, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal |
Prevalência do negociado sobre o legislado |
PL 4.193/2012 |
Aguarda votação do parecer do relator, deputado Silvio Costa (PSC-PE), pela aprovação na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados |
Trabalho intermitente |
PL 3.785/2012 |
Aguarda parecer do relator, deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados |
Código de Trabalho |
PL 1.463/2011 |
Aguarda criação de comissão especial na Câmara dos Deputados |
Redução da jornada e de salários |
PL 5.019/2009 |
Aguarda de votação de parecer do relator, deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), pela aprovação com emenda na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados |
(*) Jornalista, Especialista em Política e Representação Parlamentar e Assessor Parlamentar do Diap