Nov 24, 2024

A sorte de o Brasil ter Dilma na Presidência

Por Antônio Augusto de Queiroz , Jornalista, analista político, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), colunista da revista Teoria & Debate, idealizador e coordenador da publicação ‘Cabeças’ do Congresso. É autor dos livros ‘Por dentro do processo decisório – como se fazem as leis’ e ‘Por dentro do governo – como funciona a máquina publica’.

O Brasil tem muita sorte, neste momento de crise internacional e desconfiança generalizada nos agentes públicos, em ter como presidente da República – com as responsabilidades de chefe de Estado e de Governo e de Líder da Nação – alguém com a trajetória e a história de vida de Dilma Rousseff.

Não fosse a presidente uma pessoa inatacável do ponto de vista ético e moral, além de focada e dedicada ao governo e aos interesses do Brasil, especialmente no combate à crise internacional, certamente os brasileiros já estariam ocupando as praças públicas para reclamar por decência e probidade na condução da coisa pública, tal o nível de denúncias e escândalos veiculados nas rádios, jornais e televisões do país nos últimos dois anos.

Só alguém com a estatura de Dilma pode sobreviver politicamente nesse ambiente de crise econômica e de denúncias e escândalos – como os revelados na CPMI do Cachoeira, no julgamento do Mensalão e na Operação Porto Seguro, entre outros – sem ser acusada direta ou pessoalmente de omissão ou conivência com esse estado de coisas.

A presidente, felizmente, tem um passado limpo e um presente coerente com seu passado, além de ser percebida como alguém incorruptível, dedicada ao trabalho e intolerante com incompetência e malfeitos, como ela mesma chama os atos de improbidade ou de desvio de conduta na administração pública.

Embora não tivesse sido essa a visão de setores reacionários, inclusive da grande imprensa, a respeito da candidata Dilma durante a campanha eleitoral de 2010, após assumir a Presidência da República, os algozes do ex-presidente Lula passaram a elogiá-la por suas atitudes e posturas, notadamente no quesito de enfrentamento aos desvios de conduta e na relação com governos estrangeiros, além da sua recusa em aceitar qualquer proposta que pudesse resultar em controle sobre a mídia.

Nem o notório estilo autoritário, em certa medida, e centralizador da presidente Dilma – que consome boa parte de seu tempo dedicada a temas que poderiam ser delegados a seus auxiliares e distribui bronca em profusão – foi motivo de crítica da imprensa, que atribui todo e qualquer problema do seu governo a uma suposta herança do ex-presidente Lula.

Não se sabe até quando a oposição e seu entorno mais conservador, notadamente os proprietários de veículos de comunicação, manterão o ex-presidente Lula como alvo , preservando a presidente Dilma, que deve ser candidata à reeleição, de críticas e questionamentos.

A oposição está num beco sem saída. Não apresentou propostas alternativas; limitou-se a fazer denúncias. Se seu objetivo é interromper a trajetória de poder do PT no governo federal, certamente não terá êxito com a tática até aqui adotada. Só na hipótese, pouco provável, de uma catástrofe econômica é que teria alguma chance de derrotar Dilma mesmo sem propostas alternativas consistentes.

O fato é que nem o pífio crescimento econômico nem os escândalos têm sido motivo para afetar a governabilidade ou a popularidade da presidente. E isto é muito bom para o país, que concentra suas energias na busca de soluções para a retomada do crescimento econômico, que passa por mais investimento público e privado em educação, inovação e produção.

A cada período presidencial corresponde uma agenda nacional. A agenda do governo da presidente Dilma, por circunstâncias históricas, é a da sustentabilidade, assim como a de Sarney foi a da redemocratização, a de Itamar/Fernando Henrique a da estabilidade econômica e fiscal, e a de Lula, a de enfrentamento à desigualdade social.

A presidente, blindada por sua história, conduta e coerência do risco da acusação de conivência ou envolvimento pessoal com qualquer ato de corrupção, segue centrada na gestão do país, sem perder tempo em se defender das acusações da oposição e de setores conservadores. Se a economia continuar a favor, mesmo com crescimento abaixo das expectativas, ela vai para a reeleição sem maiores contratempos.

E, a julgar pelas suas atitudes e comportamentos até aqui, a presidente Dilma parece estar à altura do momento político e da agenda política nacional. Se tivesse qualquer envolvimento com esses escândalos, ainda que indiretamente, as denúncias da oposição “dariam liga” e o país já estaria paralisado, com grandes manifestações de protesto e enfrentamento entre aliados e adversários do governo. Sorte do Brasil e de seu povo.

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