May 15, 2024
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“Não existe limite seguro para o benzeno”, diz Danilo Costa, médico e servidor do MTE/SP

Na semana passada o Sindipetro-RS esteve presente no Seminário Estadual Sobre o Câncer Relacionado ao Trabalho, que ocorreu no auditório do CREMERS. Há trinta anos trabalhando para combater a exposição dos trabalhadores ao benzeno, o médico e servidor do Ministério do Trabalho e Emprego de São Paulo (MTE/SP), Danilo Costa, foi um dos palestrantes do evento. Danilo conversou com o Sindipetro-RS sobre o trabalho que vem sendo feito nessas últimas décadas com as empresas, e sobre a necessidade de ser realizada uma política voltada aos trabalhadores terceirizados, que são os que mais sofrem os riscos dentro da refinaria. Segundo Danilo, diferente do que as empresas pregam, estudos comprovam que não existe limite seguro quando se trata da exposição a este agente químico. O benzeno é uma substância cancerígena, que causa danos a diversos órgãos, inclusive ao feto durante a gestação. Na avaliação de Danilo, os sindipetros são os responsáveis pela melhora nessa questão, pois são os sindicatos que tem força nesta disputa. Confira a entrevista na íntegra.

 

Sindipetro-RS: Durante a palestra, a “Exposição ocupacional ao benzeno e cânceres hematológicos”, o senhor fala de uma prática comum dentro das empresas, a omissão da informação correta em relação aos riscos à exposição ao benzeno. Existe algum limite seguro quando se trata de benzeno?

 

Danilo Costa: Estudos já comprovaram que mesmo em concentrações muito baixas, temos casos de câncer no sangue. A ideia de que não se deve ter nenhuma exposição ao benzeno se confirma. E como é difícil extrair informações das empresas, elas acabam produzindo informações desqualificada e tem uma tendência a negar que exista uma exposição e riscos de doença.

 

Sindipetro-RS: Os petroleiros são uma categoria que sofrem diretamente com os impactos causados pelo benzeno. O que é preciso para reverter essa situação?

 

 

Danilo Costa: O benzeno é uma substância que existe em todo o lugar. Esta no meio ambiente por conta da queima de combustível que é incompleta e emite gases contendo essa substância. Mas fica evidente que os petroleiros são os  maiores prejudicados nesta questão, não precisamos nem comprovar isso. Existe uma diferença de intensidade da exposição nos locais em que tem petróleo e produção de substância a partir do petróleo. Creio também, que a categoria petroleira é a mais combativa neste problema, fazendo aumentar o nível de conscientização.  Precisamos fortalecer esse movimento social para convencer os órgãos governamentais para criação de leis que proíbam a exposição a qualquer tipo de concentração dessa substância

 

Sindipetro-RS: Tratando-se de um assunto tão sério, que é a saúde dos trabalhadores, onde essa questão do benzeno fica travada?

Danilo Costa: Depois da década de 90, embora a gente tenha melhoras importantes, estamos enfrentando uma progressiva escalada de retirada de direitos. A saúde dos trabalhadores tem sido prejudicada por isso. Há um movimento dentro das empresas de não reconhecimento e isso não foi possível modificar, ao contrário, vem piorando. Os trabalhadores, através dos sindipetros, cumprem um papel importante, pois estão mostrando isso, o perigo da exposição ao benzeno, mas não temos suporte no campo que seria fundamental, que é o poder público e a Petrobrás. Esse é um problema possível e necessário de ser enfrentado. A Petrobrás teria a capacidade de mudar a forma de como se trabalha no Brasil. Se ela mudasse o sistema, todas as outras empresas seguiriam o exemplo. Outro debate importante que estamos fazendo nos últimos anos é o problema da exposição ao benzeno nos postos de revenda de combustíveis. São estimados em 500 mil trabalhadores no Brasil, e hoje é o setor mais problemático e menos regulado, com o maior risco de exposição e possíveis doenças graves, que seriam aprofundadas com um estudo qualificado, assim como os trabalhadores da Petrobrás. Ocorre que a própria empresa quer fazer este estudo, com essa perspectiva e do meu ponto de vista, isso é atravessado por um conflito de interesses e por uma postura patronal. Embora seja uma empresa pública, a Petrobrás segue a lógica da empresa privada, que é negar a existência de doenças.

Sindipetro-RS: O que ainda falta para combater essa luta contra o benzeno nas empresas

Danilo Costa: A parte mais carente é essa parte de apoio aos trabalhadores, no ponto de vista de fazer a vigilância, acompanhar, fazer exames, fazer diagnóstico.  A empresa tem uma política de gestão de recursos humanos que acaba omitindo tudo, muitas vezes ela muda o trabalhador de função, só para não reconhecer a doença. Os sindicatos tem um papel muito importante no combate a essa prática, mas poderíamos criar outros espaços. Vejo que as comissões já estão pouco produtivas hoje em dia, isso porque o patronato enrola muito.  As empresas endureceram e de alguma forma tem que ter uma pressão social para acabar com esse posicionamento. Conquistamos muitas coisas dentro das refinarias, mas a posição delas é de intransigência. No Sistema Petrobrás temos uma terceirização cada vez maior, esses trabalhadores são os que ficam com os piores trabalhos e são os que tem menos acompanhamento, inclusive nosso, do Poder Público. Eu posso dizer que conheço razoavelmente a situação dos trabalhadores da Petrobrás, mas dos terceiros é um universo praticamente desconhecido, equivalente aos dos postos de combustíveis, por conta das atividades precárias, e o maior risco das refinarias vão para os terceiros e isso deveria ser a principal área de atuação, fazendo uma política voltada a eles neste momento.

 

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