Petrobrás: Rumo à gestão da destruição!
Nos últimos meses, a Petrobrás tem sofrido uma forte exposição, ou melhor, uma fritura na mídia nacional e internacional por conta de uma “suposta” deterioração da sua condição financeira e do esquema de corrupção em contratos de terceirização, cuja investigação foi denominada de Operação Lava Jato. O ápice desse processo ocorreu, em primeiro lugar, com a divulgação das demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014 e, segundo lugar, com a renúncia da atual presidente e de cinco diretores da empresa.
As demonstrações contábeis do terceiro trimestre divulgadas pela Petrobrás não confirmaram esse cenário de deterioração, uma vez que alguns resultados, omitidos ou minimizados pela diretoria demissionária, apontaram um contínuo progresso da estrutura produtiva e operacional da Petrobrás. A produção de petróleo e LGN aumentou em 6%, em relação ao terceiro trimestre de 2013, em função dos excelentes resultados operacionais de algumas plataformas da Bacia de Campos, bem como por conta da inauguração do sistema de produção antecipada (SPA) de Tartaruga Verde e dos testes de longa duração na área do pré-sal de Iara Oeste. A produção de gás natural também apresentou uma expansão significativa (7%), basicamente pelo aumento dos sistemas de produção de algumas plataformas das Bacias de Campos e de Santos. Além disso, em setembro de 2014, a Petrobrás alcançou um novo recorde da produção do pré-sal (532 mil barris/dia). Fora isso, as análises de mercado a respeito da redução de lucro da Petrobrás, em geral, desconsideraram o cenário de forte retração da demanda e do preço do petróleo que impactaram várias gigantes do setor. Se a Petrobrás conseguiu um lucro de R$ 3,1 bilhões, no terceiro trimestre de 2014, a norueguesa Statoil apresentou prejuízo próximo à R$ 1,8 bilhão e a russa Rosneft um lucro irrisório de R$ 57,1 milhões.
Ignorando o turbulento cenário externo e os êxitos operacionais – que colocam grandes perspectivas para a Petrobrás no médio prazo –, a diretoria da companhia, de modo desastroso, cedeu às pressões do mercado. Ao invés de dar ênfase aos resultados operacionais e as perspectivas futuras, a apresentação das Demonstrações Contábeis se limitou a fazer um resumo, mal e porcamente, dos pretensos prejuízos do caso Lava a Jato. Como se isso não bastasse, ressaltou o fato dos resultados não terem sido auditados pela PwC, a mesma auditoria que havia avaliado como excelentes os ativos do banco Lehman Brothers logo antes da sua quebra na crise internacional de 2008. Em outras palavras, a diretoria da Petrobrás sucumbiu aos fundamentos da Bolsa de Valores de suposta credibilidade – a mesma credibilidade que legitimou a quebradeira internacional de 2008 – e deixou, em segundo plano, os sucessos operacionais alcançados por toda sua força de trabalho.
Mas, o enquadramento da Petrobrás ao mercado não parou nesse aspecto. A criação da Diretoria de Governança, Risco e Conformidade, ocupada pelo empresário João Adalberto Elek Junior, foi mais um exemplo de que a gestão não tem se mostrado comprometida em dar fim às raízes da corrupção, mas apenas dar uma resposta ao mercado. Como já afirmado pela FUP diversas vezes, “a corrupção sempre esteve intimamente ligada à terceirização do trabalho no Sistema Petrobrás”. O processo de eliminação da corrupção sempre dependeu do fim dos contratos de terceirização, estes mesmos que deram início a todos os esquemas de desvios de recursos da empresa. Torna-se fundamental ressaltar que isso não significa afetar a vida dos petroleiros terceirizados, que devem ter seus empregos e salários preservados, mas, sim, eliminar um ciclo vicioso de negociatas que geram rendas extraordinárias apropriadas por executivos e parlamentares.
Por fim, a mera mudança da atual diretoria tem sido parte de uma estratégia muito mais ampla definida pelo mercado: a de transformar a Petrobrás naquela da década de 1990, uma empresa reduzida, com menor protagonismo econômico e com menos compromissos sociais. Ou seja, a visão do mercado para a Petrobrás sempre se caracterizou pela forte redução de custos, por meio da desarticulação e redução de áreas de atuação, eliminação dos investimentos em áreas com menor margem lucro (como, na construção de novas refinarias no Nordeste) e, principalmente, o abandono do papel social da empresa em vários municípios isolados pelo interior do país.
Ao sucumbir à estratégia do mercado, a atual direção da Petrobrás/governo tem minado as bases de reconstrução da empresa, desde 2003, que privilegiou a expansão dos investimentos nacionais, geração de tecnologia local e aumento do emprego e renda, a partir da criação de vários elos produtivos. Na verdade, o que a empresa necessita agora é de uma nova reconstrução, com o fim da terceirização, menos centralização decisória e novos investimentos. Mas, o que se vê, até agora, é a implementação da gestão da destruição, liderada pelo mercado e seus parceiros – a mídia, principalmente. Com essa estratégia destrutiva da Petrobrás, o mercado propõe extinguir “um conceito, uma bandeira, uma nação”, como bem definiu Mauro Santayanna. Uma nação que exerce um papel central na vida de grande parte dos trabalhadores brasileiros.
FUP