Greves estão sendo invisibilizadas pela mídia
Mobilizações de setores universitários e servidores públicos reivindicando pautas salariais, política de cotas raciais e contrários à precarização das condições de trabalho no país, não têm ganhado atenção da grande mídia no país. As paralisações e greves nas instituições públicas tiveram início entre os meses de maio e junho e outras devem se iniciar nos próximos meses.
No Rio de Janeiro, servidores do Rio Previdência decidiram entrar em greve nesta quarta-feira (29), após uma assembleia realizada na tarde de terça-feira. Com salários atrasados, é a primeira vez na história da autarquia, criada em 1999, que os trabalhadores decidem entrar em greve. A categoria demanda a regularização do pagamento dos salários, para que sejam efetuados em dia e de forma integral.
Assim como a Rio Previdêcia, outros setores do Estado estão paralisados, entre eles os órgãos da Saúde e da Educação. Os professores da rede estadual de ensino já estão em greve há 117 dias. Os profissionais reivindicam reajuste de 30% no salário para repor as perdas da categoria nos últimos anos. O governador em exercício no estado, Francisco Dornelles, já afirmou que os profissionais da educação não receberão o reajuste neste ano devido à crise financeira.
Já os servidores da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, farão uma paralisação em resposta ao plano do reitor Sidney Melo de estender a jornada de trabalho de 30 para 40 horas semanais. Outras pautas da mobilização são a rejeição à instalação do ponto eletrônico e o crescente assédio moral na Universidade.
USP
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), está ocupada desde o dia 12 de maio e os estudantes reivindicam cotas, permanência estudantil, mais contratações e a defesa do Hospital Universitário (HU). Os profissionais do HU estão em greve desde o dia 30 de maio, exigindo a contratação de médicos para repor desfalques de profissionais após demissões.
Outras faculdades da USP também estão paralisadas ou com indicativo de greve, assim como a Associação de Professores (ADUSP) e o Sindicato de Trabalhadores (SINTUSP). Algumas estão fechadas com piquetes, como a Faculdade de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (FOFITO) e o Instituto de Física.
Na última segunda-feira (27), o movimento negro na USP realizou a virada cultural simbólica "Por que a USP não tem cotas?". O evento contou com a presença de músicos como Luana Hansen e KL Jay. A bandeira por cotas na USP se intensificou desde 2012, após a aprovação da Lei Federal 12.711, que unificou o ingresso por cotas nas universidades federais.
No Estado de São Paulo, as cotas nas universidades estaduais são regidas por normas internas de cada instituição, e apesar de existir uma meta estabelecida pelo governo para que o corpo discente chegue a 50% de alunos oriundos de escolas públicas, destes, 35% de pretos, pardos e/ou indígenas, estas porcentagens ainda estão muito longe de se tornarem realidade.
Unicamp
Os estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também estão em greve desde o dia 11 de maio, quando a reitoria da instituição foi ocupada contra os cortes de R$ 40 milhões no orçamento da universidade. O impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o desenvolvimento de uma política de cotas raciais e permanência estudantil, também está na pauta. A greve foi deliberada em assembleia geral, que contou com a presença de cerca de 1.000 pessoas.
Os cortes foram anunciados pelo reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, no final do mês de abril, sob a justificativa da diminuição da arrecadação do estado. A Reitoria da Unicamp entregou, na manhã da última terça-feira (28), um documento com uma resposta definitiva às reivindicações do estudantes e estabeleceu até o meio dia de quinta-feira (30) como um prazo final para o acordo.
No texto, a universidade aceitou parte das reivindicações, incluindo a discussão da implantação de cotas raciais, mas não cedeu em relação ao corte de verbas. A Reitoria se comprometeu a realizar três audiências públicas e criar um grupo de trabalho para debater o tema das cotas. Outro ponto negado pela reitoria foi a ampliação das vagas de moradia estudantil. Os alunos pediram a criação de 1.500 vagas, mas a Unicamp se comprometeu em criar apenas 600 novas vagas.
Após receberam o documento, os alunos realizaram uma reunião para avaliar as propostas. A universidade possui um mandado de reintegração de posse da ocupação da reitoria desde o dia 11 de maio e, segundo o reitor, a proposta de acordo é a última que será feita.
Unesp
Os campus da Unesp em São Paulo e em cidades do interior paulista também estão em greve. Os funcionários técnicos e administrativos da universidade entraram em greve no final de maio por reajuste de salários em cinco unidades do interior de São Paulo: Botucatu, Bauru, Assis, Marília e Ourinhos. Os trabalhadores também reivindicam 9,34% de reajuste salarial, 3% de reposição de perdas e aumento nos vales, congelados desde 2013.