Nov 23, 2024

O que revela o discurso de posse de Pedro Parente

Pedro Parente tomou posse nesta quinta-feira (2.jun.2016) no Rio de Janeiro como novo presidente da Petrobrás. Maior companhia do país, a Petrobrás é responsável por cerca de 13% do PIB brasileiro, emprega diretamente mais de 80 mil funcionários, mais de 200 mil terceirizados e é uma das grandes indutoras do desenvolvimento social e econômico do país. Sua importância estratégica para o Brasil é inquestionável.   
 
Em um discurso de nove páginas, Pedro Parente deixou claro que vem com a missão de cumprir a agenda neoliberal que o PSDB tentou emplacar nos governos FHC, mas que foi impedida pela determinação dos trabalhadores, pela força da sociedade e pela mudança de governo.
 
Agora, voltam à carga nos braços golpistas. Destaquei alguns trechos do discurso de Parente. São bastante reveladores. Leiam a seguir 
 
Sobre o conteúdo nacional
 
“Que prevaleça pela competência, que lhe permita passar [o conteúdo nacional] pelo teste ácido da concorrência, e não pela constituição de reservas de mercado que, ao contrário, só têm apresentado resultados pífios, especialmente nos prazos de entrega”.
 
Ou seja, bye, bye política de conteúdo nacional, que ajudou o país a superar a crise de 2008/2009 e a recuperar importantes setores como o da construção naval.
 
Sobre o pré-sal
 
“A Petrobras e o Brasil não podem se dar ao luxo de esperar tempo demais. Temos que arregaçar as mangas e levar o pré-sal ao seu potencial máximo, sem estarmos presos a amarras dogmáticas e com a colaboração das empresas parceiras”.
“Nesse sentido, a empresa apoia a revisão da lei de exploração do pré-sal com a substituição da exploração de cada campo, substituição da obrigação que participe com pelo menos 30% da exploração de cada campo, pelo direito de preferência com a participação que julgar atender melhor os seus objetivos. Em nosso ponto de vista, como está, essa lei não atende nem aos interesses da empresa, nem do país”.
 
Nada mais claro do que essa declaração. Parente apoia o projeto de seu padrinho José Serra, de entregar a operação do pré-sal ao mercado internacional, abrindo mão da soberania nacional energética, o que ele chama de “amarras dogmáticas”.
 
Gestões anteriores
 
“A Sociedade Brasileira e os acionistas têm, hoje, visão mais clara das verdadeiras causas da situação atual da Petrobras: a euforia e o triunfalismo do discurso dos anos recentes não servem mais para esconder o verdadeiro descalabro que vitimou essa companhia”.
 
Aqui, Parente ataca diretamente o governo Lula, que descobriu o pré-sal e o de Dilma, que marcou a descoberta como “passaporte para o futuro”. Ao tentar desconstruir essa visão, PP se alia ao discurso de empresas estrangeiras que desqualificam a Petrobrás para tomar de assalto seus recursos.
 
Sobre a Refinaria de Pasadena
 
“Uma série de projetos e investimentos se mostrou irrealista, seja sob o ponto de vista de prazo de conclusão, de seus custos finais e pelas premissas utilizadas, muitos deles frequentando noticiário com razões altamente negativas, e não produziram os retornos desejados”.
 
Parente quer atacar, principalmente, a compra da refinaria de Pasadena, que esteve na mira da mídia por muitos meses, como um exemplo de péssimo negócio. O ex-presidente da empresa, José Gabrielli, já explicou por diversas vezes porque a compra não foi um mau negócio na época. A refinaria atualmente está em atividade e dando lucro.
 
Sobre a capitalização da Petrobrás
 
“É discussão corrente que para sair dessa grave situação a União, como principal acionista, deveria promover uma capitalização da empresa. Não gosto dessa visão por vários motivos”.
“Isso não quer dizer que poderemos dispensar o apoio das autoridades brasileiras para o nosso plano de recuperação. Pode ser que esse plano demande alterações legais ou regulamentares, que dependam desse apoio para o seu pleno sucesso”.
 
A tradução mais literal dessa frase é simples: mudar o marco regulatório do pré-sal e atrair investimentos estrangeiros sem a interferência do Estado, que, afinal, detém, ainda, a maioria das ações da Petrobrás. Vê-se aqui as digitais de José Serra e seu sonho entreguista.
 
Sobre a responsabilidade social
 
“A minha primeira prioridade é a continuação da recuperação econômica e financeira da empresa... Isso certamente envolve um cumprimento de sua função social e as relações com seus empregados e as comunidades onde atua dentro e fora do Brasil. Mas essa função social, por mais que leve em consideração o interesse público e as políticas do seu controlador, o Estado brasileiro, não podem, de forma alguma, se confundir com ele... A busca da sua função social não é excludente nem se opõe a uma atuação da Petrobras com responsabilidade econômica e financeira”.
 
Ao contrapor “responsabilidade financeira”, com “responsabilidade social”, Parente dá a senha de que a empresa irá rever seus compromissos com a sociedade. Em vez de se consolidar como indutora do crescimento econômico e social do Brasil, sob a tutela neoliberal será uma empresa voltada exclusivamente para o lucro de seus acionistas e, se possível, com a menor interferência possível do Estado, até a sua completa privatização.
 
Retorno de investimentos
 
“O segundo pilar para o resgate da Petrobras é a adoção da responsabilidade econômica e financeira em absolutamente todos os planos e ações da empresa. Pelo bem da empresa, o que, insisto, inclui o atendimento de sua função social, todos os investimentos e ações adotadas pela companhia devem ter clara e inconteste relação com a capacidade de gerar o retorno econômico”.
 
Essa frase só torna ainda mais clara a posição do lucro se sobrepor à função social da Petrobrás.  
 
Política de desinvestimento
 
“É crucial para a reconstrução da Petrobras também continuar com o seu plano de desinvestimentos da companhia. A empresa precisa fortalecer o seu caixa e reduzir a sua dívida e os desinvestimentos são fundamentais para esse objetivo”.
 
Mantém a política adotada pelo atual Conselho de Administração, de vender ativos para fazer caixa. Essa é uma política, no mínimo, equivocada no atual momento, quando área do petróleo está com sobre oferta de ativos no mundo todo, fazendo com que os preços desses ativos sejam aquém do poderiam oferecer em outro cenário.
 
Benção “padinho” Serra
 
“Também saúdo o ministro das Relações Exteriores, cuja rede de colaboradores mantemos frequentes contatos no exterior”.
 
Mesmo sem estar presente na cerimônia de posse, José Serra foi lembrado e homenageado pelo seu apadrinhado. A indicação de Parente para a Petrobrás partiu do atual ministro das Relações Exteriores.
 
Diálogo com o mercado
 
“A lista de desafios no caminho da Petrobras é longa, mas quero trilhá-la através do diálogo intenso com todo o setor de Energia, Gás, Óleo e Gás do país. Esse diálogo se inicia pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a ANP. Pelo Instituto Brasileiro do Petróleo, IBP, que congrega as empresas desse setor e as lideranças das entidades representativas do mundo industrial, como a Firjan. Inclui também a Comissão de Valores Imobiliários e a sua congênere americana, a SEC. Os órgãos ambientais, tanto o Ibama quanto os estaduais... A todos reitero o meu compromisso com uma relação franca e transparente”.
 
Nem uma palavra aqui sobre diálogo com os trabalhadores. Mas isso vem logo abaixo.
 
Recado aos funcionários
 
“Eu quero dirigir-me agora a todos os meus novos colegas de trabalho, os mais de 80 mil funcionários da Petrobras. Que mantenham a dedicação e o empenho pela total recuperação da empresa. Com afinco e trabalho sério, vamos conseguir trazer de volta essa empresa ao posto que ela merece”.
 
Ou seja, trabalhem para dar lucro para a empresa.
 
Segurança
 
“Teremos especial atenção para a nossa gente, começando pelo tema da segurança. Temos que nos empenhar para eliminar as situações que podem terminar com ‘vitimização’ dos nossos colaboradores, próprios ou terceirizados, não faz a menor diferença, com ou sem afastamento ou, ainda mais grave, com fatalidades. A segurança tem que ser um valor absoluto”.
 
O tempo dirá se é apenas uma frase de efeito ou um compromisso sério. A questão da segurança é um dos principais itens cobrados pelo movimento sindical.
 
Diálogo do sim senhor
 
“A hora é de diálogo e de cooperação para o resgate da nossa empresa. E nesse sentido, a representação dos nossos empregados por meio das suas instituições regularmente constituídas, é peça fundamental e é bem-vinda, desde que imbuída desses elevados propósitos”.
 
Imbuída desses elevados propósitos??. Ou seja, haverá diálogo com as representações sindicais se essas assinarem a cartilha neoliberal de desmonte da empresa. Não há diálogo possível com base nessas premissas.

Confira as Proposições tiradas do XXXI Congresso Estadual dos Petroleiros do RS

No último sábado, 04 de junho, foi realizado o XXXI Congresso Estadual dos Petroleiros e Petroleiras do RS. Este ano as discussões do acordo serão apenas de cláusulas econômicas, a proposta para o Termo Aditivo ao ACT 2015/2017, e que será encaminhadas à VI PlenaFUP, foi de 1,3x ICV do Dieese. No final, os participantes elegeram a chapa que irá participar da plenária, no RJ, em Campo dos Goyatacazes, entre os dias 06 e 10 de julho.

 

Confira as deliberações do Congresso:

 

Referendo a Carta de Laguna;

Reafirmar o apoio à luta pela democracia e contra o golpe, através da participação nas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo;

Fortalecer a luta em Defesa da Petrobrás e do Pré-Sal como instrumentos de desenvolvimento do Brasil;

Reajuste salarial de 1,3 vezes o índice medido pelo ICV/Dieese.

Lula: “Somente o Estado pode fazer justiça social”

Na noite dessa segunda-feira (6), o palco da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, recebeu lideranças de movimentos sociais e sindicais para o lançamento da campanha “Se é público, é para todos”, do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, que conta com diversas entidades, entre elas a CUT.

Convidado especial do evento, o ex-presidente Lula se emocionou durante seu discurso ao lembrar da defesa que fez dos direitos da população mais pobre em seu governo, utilizando justamente as estatais. “No dia que um hospital particular atender pobre, no dia que um empresário oferecer energia barata para o povo, aí eu vou deixar de investir na coisa pública. Somente o Estado é capaz de levar na casa do pobre aquilo que empresário nunca levou e nunca vai levar. Somente o Estado pode fazer justiça nesse país, um Estado democrático”, afirmou.

O ex-presidente criticou o governo interino em exercício no Brasil. “O Temer acaba de dar um golpe, mas não na Dilma. Ele deu um golpe na decisão que o Senado tomou. O Senado apenas o colocou como presidente interino. Ele não tinha o direito de fazer o que ele fez. Ele cortou até o almoço da Dilma. Amanhã nós vamos comer 'marmitex'. Mas eles não vão impedir que a gente ande por esse país fazendo as denúncias que temos que fazer.”

“Volta, querida”

Entre os gritos de “Fora, Temer”, repetidos à exaustão durante todo o dia na Fundição Progresso, surgiram, diversas vezes, o pedido: “volta, querida”, em referência a um possível retorno da presidenta Dilma Rousseff (PT) ao poder. O desejo foi reforçado pelo presidente nacional da CUT, Vagner Freitas.

“A única forma que temos de defender as empresas públicas, é derrotarmos o golpe que se impôs nesse País. Somente assim vamos trazer de volta a presidenta Dilma e garantir a soberania nacional”, afirmou Freitas, que convocou a militância para a grande manifestação popular convocada pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

“Cada companheiro e companheira que esteja indignado com esse golpe tem que cruzar os braços no dia 10 de junho, nós vamos parar o Brasil e derrotar o Michel Temer”, finalizou Vagner.

Ainda durante o evento, falou o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, José Maria Rangel, defendeu a manutenção da Petrobrás como empresa pública.

“Quando que um empresário vai abrir mão de 60% de seu lucro para investir no Brasil? O petróleo é nosso e não vamos ceder. Os petroleiros irão resistir”, afirmou o petroleiro.

Debate 

Durante a tarde, antes do encontro principal do dia, também na Fundição Progresso, houve uma mesa de debate que reuniu a filósofa Márcia Tiburi, o cientista político Emir Sader e a deputada federal Jandira Feghalli (PCdoB-RJ).

Márcia Tiburi contextualizou o conceito de “público” e lembrou que o atual governo não preza nem em sua equipe pela ideia de “público”. “Se nós, mulheres, não estamos presentes com nossos corpos e ideias nos espaços de poder, então esse espaço não é ‘público’ e nos silencia.”

Já Emir Sader alertou para os riscos corridos pelos bancos públicos. “O Temer quer fechar 400 agências da Caixa. Alguém aqui acredita que o Bradesco ou o Itaú vão financiar moradia para pobres?”, perguntou o cientista político.

Fonte: CUT | Foto: Mídia Ninja

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