A gigante anglo-holandesa do setor de petróleo e gás, Shell, está vindo com tudo para o pré-sal. Depois de comprar a BG por 47 bilhões de libras (cerca de 70 bilhões de dólares) a empresa anunciou que irá abandonar seus negócios em até dez países. O plano é focar esforços em projetos de águas profundas no Brasil e Golfo do México.
A Shell comprou a BG depois que a empresa arrematou uma participação de 30% em blocos no campo de Lula, o mais produtivo do pré-sal brasileiro. A BG estava extraindo 200 mil barris por dia quando foi adquirida. O executivo que realizou a negociação pelo lado da BG foi Nelson Silva, mais novo consultor da Petrobras presidida por Pedro Parente.
O petróleo brasileiro da Shell já tem um ponto de saída privilegiado. Na última terça-feira (7), três novos terminais foram inaugurados no Porto do Açu, no norte fluminense. Um desses terminais, o T-Oil, permite a transferência de petróleo dos navios que atendem as plataformas - mais tecnológicos - para outros mais simples e maiores, de exportação.
Antes, as empresas precisavam ir até o Uruguai para realizar a transferência. O porto, idealizado por Eike Batista, soluciona um gargalo logístico histórico. Infelizmente, para benefício quase exclusivo de interesses estrangeiros.
O primeiro cliente do T-Oil no Porto de Açu é: a Shell. A empresa usará as instalações para escoar a produção dos projetos de pré-sal adquiridos com a compra da BG.
Enquanto empresas estrangeiras apostam alto (quase tudo) na viabilidade do pré-sal, a Petrobras abre mão da participação mínima obrigatória e apoia o projeto de lei de José Serra para alterar a lei de partilha.
O presidente da Petrobras do governo interino Temer, Pedro Parente, disse em seu discurso de posse que a regra “retira a liberdade de escolha da empresa, de somente participar na exploração e produção dos campos que atendam o seu melhor interesse, o que é imperdoável para uma empresa listada em Bolsa”.
Esta semana, o presidente Lula participou de ato público e alertou sobre os interesses estrangeiros que querem o controle do petróleo brasileiro. “Assim que o Brasil descobriu o pré-sal, os americanos criaram a 4ª frota naval para o Atlântico Sul”, lembrou.
Ele lamentou que o sonho de fazer do pré-sal o vetor do desenvolvimento nacional esteja ruindo em apenas um mês do governo Temer.
“Nós decidimos que o pré-sal seria o passaporte para o futuro deste país. Por isso, criamos o sistema de partilha, dizendo que o petróleo é do Estado e do povo brasileiro, investindo em educação e ciência e tecnologia, para tirar o atraso deste país”, disse. “Os interesses contra nós são muitos”.